O programador André Leiradella (43), que trabalha na empresa americana Insomniac Games,
nos disse em uma declaração polêmica: “Minha visão sobre o mercado
brasileiro é limitadíssima, mas com uma certeza: Eu nunca desenvolveria
um jogo pensando no mercado nacional”. Como profissional remoto, ele tem
opiniões bem críticas sobre o desenvolvimento de jogos por aqui e nos
contou detalhes sobre a empresa responsável por alguns games conhecidos
na indústria, como Spyro The Dragon, Ratchet & Clank, Resistance,
Outernauts e Fuse. Confira a entrevista na coluna Geração Gamer.
Resistance, Outernauts, Ratchet e o clássico Spyro são alguns dos games da Insomniac
“Quem não chora, não mama”
André não lida
com público de jogos indies. A Insomniac Games existe desde 28 de
fevereiro de 1994 e tem sede em Burbank, California. A empresa tem por
volta de 200 funcionários e se especializou nos chamados “Games Triple
A”: Jogos voltados para consoles de ponta, que contam com produções
caprichadas e são sucesso na crítica especializada. “Tenha vontade de
aprender, porque as oportunidades lá fora são muitas”, diz o
especialista.
O programador está nessa companhia
norte-americana há pelo menos sete anos: “Eu já conhecia o Mike Acton,
diretor de engine na Insomniac, quando ele entrou na empresa em 2007.
Nessa ocasião, ele enviou uma mensagem para todos os seus contatos do LinkedIn
buscando um programador para o time. Apesar de nunca ter trabalhado com
jogos, exceto como hobby, pensei que ‘quem não chora, não mama’.
Respondi a mensagem e, após alguns emails e telefonemas, comecei a
trabalhar remotamente”.
André Leiradella começou a trabalhar na Insomniac Games graças a Mike Acton, diretor de engine
E o que ele considera necessário para trabalhar com jogos AAA? “Para
trabalhar em um estúdio AAA, é preciso ser bom técnico. Saber a
linguagem C e C++ é obrigatório. Fazer jogos como hobby é importante
para um bom entendimento de sua arquitetura. Use engines prontos, mas
faça você mesmo um”, explica o desenvolvedor.
Como ele começou nos games?
“O primeiro
videogame que joguei foi um Telejogo, mas só fui conferir de verdade
com 11 anos, em um Atari que ganhei de Natal em 1981. Também joguei num
TK82-C, que comprei parcelado com minha mesada na mesma época. Foi nele
que comecei a aprender programação. Depois disso joguei mais em
computadores: Um TK90X de um amigo, um CP300, um MSX posteriormente
convertido para MSX2, e PCs. Só retornei aos consoles com o PlayStation
3″, confessa André.
André começou a programar em um TK82-C, computador da empresa brasileira Microdigital Eletrônica, criado em 1981
Apesar de ser um usuário mais assíduo nos computadores, André tem alguns
ídolos nos consoles. “Não costumo ter games favoritos, porque tudo tem
sua época e seu lugar. Mas, se for para eleger um, acredito que o melhor
jogo seja Doom. Eu já jogava o Wolfenstein 3D
e lembro como o ambiente em três dimensões me fascinou. Bem, era na
verdade ’2.5D’, mas a ilusão foi suficiente para me viciar. Até hoje eu
jogo, às vezes, usando versões modernas do engine. Mas o primeiro Metal Gear, para MSX2, e Super Mario World não ficam atrás”, disse o entrevistado, lembrando dos jogos retrôs.
O programador da Insomniac Games é fã do primeiro Metal Gear para MSX
Mas André não gosta apenas de joguinhos antigos, da década de 80:
“Atualmente meu console favorito é o PS3, tanto por sua arquitetura
quanto por sua biblioteca de jogos. Também tenho em casa um Super
Nintendo, um PS2, um Wii, dois PSP e dois PS Vita. Ah, tenho um Telejogo
da Philco funcionando!”.
Trabalhando com Ratchet & Clank e Resistance
O primeiro jogo a trazer o nome de André Leiradella nos créditos foi Resistance 2, mas ele já tinha feito Ratchet & Clank
Ratchet & Clank é uma série de jogos de plataforma protagonizada em
terceira pessoa por um humanoide animalesco chamado Ratchet, que é
mecânico, e um robô chamado Clank. É um jogo com design amigável e feito
pra jogar entre a maioria dos públicos. A série Resistance é mais
diferente, com aliens e tiroteio em primeira pessoa. É um tradicional
FPS. André Leiradella participou das duas produções.
Ratchet & Clank Future: Tools of Destruction foi o primeiro jogo de André Leiradella
“O primeiro jogo lançado que levou meu nome nos créditos foi o
Resistance 2, mas quando entrei na empresa estávamos trabalhando no
Ratchet & Clank Future: Tools of Destruction. Trabalho com PlayStation 3, mas não tenho devkit, o kit de desenvolvedor. Eu tinha um PS3 retail que rodava Linux, e meu desenvolvimento era nele e em Windows”, explicou André, sobre suas principais contribuições à Insomniac Games.
“O
projeto que mais gostei de trabalhar foi o de uma prova de conceito,
que era de como tirar máximo proveito das SPUs do processador do PS3 e
que ficou conhecida como SPU Shaders. Outro que também me trouxe muita
satisfação foi uma ferramenta para criação de shaders de forma gráfica,
voltada para artistas para que pudessem criar efeitos sem o envolvimento
do time de engine”, falou o especialista, preocupado em facilitar e
otimizar o trabalho de seus colegas na empresa.
André também
conheceu os responsáveis pela criação de um clássico, que atualmente
estão em cargos de confiança na Insomniac Games: “Estive apenas uma vez
no estúdio em Burbank, na sede, e naquela ocasião eu conheci Ted Price,
que é o atual CEO, e Alex Hastings”.
O que desenvolvedores devem fazer no começo de carreira?
Resistance 2 foi o primeiro game com assinatura de André Leiradella
“Tenha um blog, ou melhor, escreva para um blog que já tenha
visibilidade, como o #AltDevBlog. Eu tenho alguns artigos no
#AltDevBlog, e eles me renderam algumas oportunidades interessantes que
infelizmente não se concretizaram por diferentes motivos. E tenha
vontade de aprender”, sugere André, buscando um caminho diferente entre
os programadores de sua categoria.
O desenvolvedor também
explicou qual é a principal diferença entre jogos top de linha e os
independentes. “O baixo custo de produção também permite a
experimentação de ideias e um período de ajustes maior. Para trabalhar
como indie, disponibilidade, vontade e persistência são mais
importantes. Histórias de sucesso não faltam, assim como mercados de
nicho, como jogos de aventura point & click, RPGs retrô com
inspiração nos primeiros Final Fantasy,
e Choose Your Own Adventure, que são mais simples de desenvolver do que
um FPS como o Resistance e que não oferecem tanta competição”, diz o
programador. Ele finaliza: “Siga outros desenvolvedores no Twitter e nas redes sociais, para manter contato com a indústria”.
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